O g1 dirigiu a primeira unidade da picape elétrica a desembarcar no Brasil e traz, com exclusividade, uma entrevista com o funkeiro e dono da caminhonete. g1 testou: a primeira Tesla Cybertruck que veio para o Brasil
Basta uma volta no quarteirão para ver que é impossível passar despercebido a bordo de uma picape cromada, com quase 6 metros de comprimento e linhas de design exóticas — mesmo no trânsito de São Paulo.
A cada semáforo, uma enxurrada de celulares era sacada do bolso de pedestres e motociclistas para registrar o momento. Não é para menos: o g1 testou com exclusividade a primeira picape Tesla Cybertruck a desembarcar em solo brasileiro.
O veículo pertence ao influenciador digital e funkeiro Danielzinho Grau, conhecido por rifas promovidas nas redes sociais e por suas canções e funks ostentação, como “Set tá jogado pretão”.
A caminhonete desembarcou no Brasil em maio de 2024. E chama tanta atenção que um dos primeiros passeios de Danielzinho por Cotia (SP) viralizou. O vídeo já tem quase 20 milhões de visualizações nas redes sociais.
“Eu quis comprar o carro porque ele tem o desempenho de um esportivo, tamanho e comodidade de uma picape e uma segurança inigualável”, resumiu Danielzinho.
“O primeiro proprietário brasileiro, que ficou esperando o carro chegar dos Estados Unidos e passou por todo o processo e burocracia, foi um importador. Ele me ofereceu a Cybertruck por intermédio de outras pessoas. Aí eu falei: pode mandar que é minha!”
O único defeito do carro, segundo o cantor, é justamente “não passar despercebido”.
Nesta reportagem, há uma análise do primeiro contato com o carro, e uma entrevista com o influenciador, que conta por que decidiu gastar milhões para colocar a Tesla Cybertruck na garagem.
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Danielzinho Grau e o primeiro Tesla Cybertruck do Brasil
Fabio Tito | g1
Afinal, que picape é essa?
A picape foi apresentada em 2019, mas foi somente no final de 2023 que as primeiras unidades chegaram aos compradores americanos. Demorou cerca de seis meses para que uma delas colocasse seus pneus em asfalto brasileiro.
A Cybertruck tem três versões:
Rear-Wheel Drive (entrada), que parte de US$ 60.990 (ou R$ 340 mil);
All-Wheel Drive (intermediária), que custa US$ 79.990 (R$ 440 mil);
Cyberbeast (topo de linha), por US$ 99.990 (aproximadamente R$ 550 mil).
As duas primeiras têm 608 cv de potência. Em comparação, isso se traduz em uma potência 8,5 vezes superior a de um Renault Kwid, por exemplo. O torque é de 102 kgfm, cerca de 10 vezes maior que o Kwid.
As duas versões aceleram de 0 a 100 km/h em apenas 4,1 segundos, com velocidade máxima de 180 km/h. A principal diferença entre elas é a tração nas rodas: a Rear-Wheel Drive tem tração traseira, enquanto a All-Wheel Drive a possui nas quatro rodas.
Versões e preços da picape elétrica Cybertruck
Já a configuração topo de linha, a Cyberbeast, tem potência e torque elevados para 857 cv (249 cv a mais) e 142 kgfm (adição de 40 kgfm). Seria, em termos práticos, como se adicionasse mais 4 Kwids, totalizando 12 compactos da Renault em potência e 14 em torque em relação às versões anteriores.
O tempo até 100 km/h cai 1,5 segundo. Ou seja, a picape atinge a marca em apenas 2,6 segundos. Também é mantida a tração integral nesta versão.
Contudo, como dito no início da reportagem, o que mais chama atenção no carro é o seu visual. Além do formato triangular, a carcaça de inox ofusca a visão de pedestres e motoristas ao redor — ideal para quem gosta de chamar atenção.
Veja a galeria de fotos abaixo.
Confira fotos da picape de Danielzinho Grau
Polêmicas
A marca americana Tesla, que pertence ao empresário Elon Musk, produz uma gama de veículos 100% elétricos, como os Model S, 3, X e Y. Nada, porém, causou tanta controvérsia como a picape Cybertruck.
Uma das polêmicas envolvendo o carro vem da sua estrutura de aço inox. A fama de “inquebrável” surgiu quando o dono da Tesla garantiu que os vidros não quebrariam ao serem atingidos por uma bolada de beisebol, arremessada a 112 km/h. Ainda de acordo com a fabricante, o aço que reveste o carro é à prova de balas.
São essas características que cativam compradores como Danielzinho Grau. Mas também há críticas aos materiais escolhidos e às linhas do veículo, de formatos muito retilíneos.
Ainda não há testes conclusivos dos institutos oficiais de segurança, que atestam os riscos de uma batida com a picape, mas especialistas preveem que um automóvel com ângulos tão pronunciados pode representar um risco maior para pedestres e outros veículos que se envolverem em acidentes com uma Cybertruck.
Um carro que não apresenta zonas deformação programada pode representar ameaças também ao motorista e ocupantes. Essas peças são delineadas para absorver o impacto durante uma batida, passando o mínimo possível para quem está na cabine do veículo. O capô, ao deformar, se dobra em algumas partes envitando, assim, que seja lançado contra o parabrisa.
Por fim, vídeos nas redes sociais mostram como a tampa do porta-malas dianteiro, que tem fechamento elétrico e não possui sistema antiesmagamento, pode ferir um usuário que esquecer um dedo na fresta.
Como ela anda
A Cybertruck testada pelo g1 é da versão All-Wheel Drive (tração integral), intermediária. A série especial Foundation Series (série de fundação, em tradução livre) identifica através de uma inscrição próximo à caixa de roda da dianteira as primeiras unidades fabricadas mundialmente.
Apesar de Danielzinho Grau não revelar, estima-se que, somando todos os custos e taxas de importação, o valor da picape ultrapasse a casa dos R$ 2,5 milhões.
Ao volante, o que mais salta aos olhos nas primeiras impressões é o torque instantâneo de um sistema elétrico de propulsão. Diferentemente dos motores tradicionais a combustão, que possuem um pico específico de torque e potência, os motores elétricos disponibilizam toda a sua força desde o início.
A outra, certamente, é o típico silêncio a bordo dos elétricos. Exceto pelo leve ruído de funcionamento do motor elétrico, quase não se percebe que o carro está ligado.
À frente do motorista, apenas os pedais de freio, acelerador e um volante que lembra o de um carro de corrida, como o da Fórmula 1.
A dirigibilidade é super-responsiva e o volante multiplica a força que o motorista faz para manobrar. A peça da direção não dá “voltas”, pelo contrário. Ela vira apenas 90° para a direita e para a esquerda, o suficiente para manobrar a picape com tranquilidade.
É na tela multimídia de 18,5 polegadas que se controla a maior parte das funções da picape elétrica
Fabio Tito | g1
E isso se deve ao sistema Steer-by-whire, que é a direção por cabos. Esse sistema elimina um comando físico conectado diretamente do volante para as rodas (barra de direção), deixando essa função a cargo de sinais eletrônicos e um motor elétrico. E não há risco de perder o controle do veículo porque o sistema de cabos tem redundância, garantindo que os sinais cheguem às rodas.
O primeiro ponto negativo da picape de Elon Musk é o excesso de minimalismo. O painel é limpo e com traços bem definidos. O ambiente se completa com uma iluminação customizável de led de ponta a ponta na cabine.
Mas os consoles deixaram de lado qualquer botão físico e absolutamente tudo deve ser comandado através da tela multimídia de 18,5 polegadas no centro do painel. Não é nada fácil intuir se o carro está “ligado/on” ou “desligado/off” pela tela.
Comandos do ar-condicionado, que deveriam ser de fácil acesso através de botões físicos, não existem fora da tela. E pior: não dá para acessar essas informações de forma rápida sem olhar para o display. Esse desvio de atenção pode comprometer a concentração do motorista.
A falta de botões é levada ao extremo na Cybertruck: nem haste para seta e limpador de para-brisa existe no modelo, assim como nos outros carros da Tesla (exceto o Model Y). A mudança de direção é indicada por meio de parcos botões no volante.

Também é pela tela que funciona o câmbio automático (de apenas uma marcha à frente e outra à ré). Basta arrastar o cursor para cima, como se faz em um smartphone, para que a Cybertruck fique pronta para arrancar.
O conforto dos bancos é um dos pontos altos da cabine. Eles abraçam e não deixam o corpo rolar em curvas acentuadas. O toque do couro dos assentos, portas e painel completam a sensação de estar em um carro de luxo.
Entre o motorista e passageiro, há um porta-objetos com apoio de braço. Nele, é possível deixar o celular carregando sem fio, por meio do carregador por indução.
Espaço na caçamba da Tesla Cybertruck
Fábio Tito/g1
Na parte de trás, há espaço suficiente para três adultos viajarem com conforto. Apesar da queda pronunciada do teto, que acompanha o formato triangular da picape, até pessoas mais altas viajam sem bater a cabeça no vidro — sim, o teto é de vidro, como de praxe nos carros da Tesla.
Os espaços para bagagem — no plural, pois são dois compartimentos — somam 1.900 litros. Como comparativo, a RAM 3500, maior picape à venda oficialmente no Brasil, tem 1.628 litros de espaço na caçamba.
O segredo da Cybertruck é ter um compartimento a mais onde seria o motor. Nos carros elétricos convencionais, os motores estão instalados nos eixos das rodas. Ou seja, a força e velocidade do propulsor é transmitida diretamente para a roda, sem peças intermediárias (como uma transmissão). E a construção da Cybertruck segue essa mesma lógica.
A suspensão a ar permite configurações manuais, o que facilita a transposição de obstáculos e rios quando ela está mais alta, sem perder a esportividade quando está na altura mínima. Essa característica traz diferentes personalidades para a picape, que não deixa de ser confortável em nenhuma condição.
Porta-malas dianteiro do Tesla Cybertruck
Fabio Tito | g1